Mário de Sá-Carneiro
O recreio
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar -
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma veza folia:
Morre a criança afogada...
- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...
- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
Paris - outubro 1915
Mário de Sá-Carneiro (2005). «O Recreio», in: Poemas Completos (3.ª edição). Lisboa: Assírio e Alvim, p. 113.
Sem comentários:
Enviar um comentário