sexta-feira, 14 de junho de 2013

Mia Couto
No ano em que Mia Couto recebe o Prémio Camões, recordamos um dos seus primeiros poemas publicados em Raiz do Orvalho.
Recordemos o que nos diz o autor na introdução à reedição destes seus poemas iniciais:
            “Hesitei muito e muito tempo até aceitar republicar este livro de versos. A edição original foi publicada em Maputo, em 1983. Rapidamente o livro se esgotou e tenho, ao longo deste tempo, recebido várias sugestões para o reeditar. Desde então, porém, a minha escrita derivou para outros universos e hoje sou um poeta cuja prosa é muito distante daquilo que se pode pressentir em Raiz do Orvalho. Eu próprio não me reconheço em muitos desses versos. Alguns não resistiram ao tempo, outros adoeceram de serem tão íntimos. Assim, ao aceder a publicar a minha poesia inicial eu senti que devia escolher apenas alguns dos poemas da primeira versão de Raiz do Orvalho. Acrescentei outros versos inéditos, todos eles datados da década de oitenta. Assumo estes versos como parte do meu percurso. Foi daqui que eu parti a desvendar outros terrenos. O que me liga a este livro não é apenas memória. Mas o reconhecimento de que, sem esta escrita, eu nunca experimentaria outras dimensões da palavra.” (Mia Couto)

Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato
morro
no mundo por que luto
nasço

Setembro de 1977

Couto, Mia (2001). Raiz de Orvalho e Outros Poemas
(3ª ed.). Lisboa: Editorial Caminho. p. 13.

Também disponível em Citador


Terminamos com a epígrafe de Cada Homem é uma Raça, de Mia Couto:

            Inquirido sobre a sua raça, respondeu:
            – A minha raça sou eu, João Passarinheiro.
Convidado a explicar-se, acrescentou:
            – Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor polícia.

                               (Extracto das declarações do vendedor de pássaros.)

Couto, Mia (1992). Cada Homem é uma Raça (2ª ed.). Lisboa: Editorial Caminho. p. 9.


A equipa de “Uma página por dia” deseja-vos Boas Férias!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Onésimo Teotónio Almeida
A Ilha desconhecida
[excerto]
       Ou a Bela Adormecida. Hoje apetece-me falar de algo que a quase totalidade dos leitores conhece apenas de nome. Vou meter-me na contradição de fazer alarde da quinta-essência da ilha – São Jorge – esperando que poucos ou nenhuns queiram ir verificar a fonte do meu entusiasmo, porque esse seria o fim dela como museu, não sei se do Tempo, do Silêncio, do Verde ou da Paz.
       Raul Brandão, quem melhor viu os Açores de fora e quem ajudou as gerações de dentro, que vieram depois dele, a olhar o arquipélago, não parece ter lá estado muito tempo. Nesse belo livro de viagens As Ilhas Desconhecidas, chamou-lhe “ilha fúnebre”. “Pastagens, pastagens… Terra triste, impressão severa.” Confessava que lhe falavam do nobre pitoresco, mas tudo perdera para si o interesse desde que topara com um pastor, cara de estranho, a falar-lhe inexpressivamente da vida. Com indiferença. O isolamento comunicara-lhe a mudez.
       Por São Jorge caí de amores à primeira vista há um quarto de século. A ilha ficou-me um vício a matar periodicamente, mas tem piorado com o remédio da cura.
       São Jorge não se escreve, embora alguns poetas tenham experimentado. Da sua Lisboa, Carlos Faria, o mais antigo e mais fanático jorgense de coração que conheço, por lá ia em serviço e não se cansava de tentar: “Sentado no ponto mais alto da Ilha, (…) toda a paz me acontece. (…) Nenhuma altitude nos tira do pé do mar. (…) Longe do mar, aqui no mar?” Ou: “A Costa Norte rebenta de silêncio.” “ Um silêncio / corre dos meus ouvidos…”. “Salto verde entre o céu e o mar”. Ou ainda: “São asas estes dias de bruma, este / cobrir de distância a viagem / que nos cerca!”
       […]
       Em São Jorge, só a conversa não é ruído. Por isso aquele rapaz da Beira, povoação de umas escassas centenas de pessoas, me dizia no seu falar arrastado: “ Eu já não podia com o barulho e mudei-me para a Fajã de João Dias”. Desce-se também só a pé e a caminhada não é fácil. Dizem, porque eu nunca fui, nem me devem querer lá. Ou deve, no singular, pois resta saber se morará mais alguém ao fundo daqueles quatrocentos metros de rocha íngreme, diante do mar Atlântico que se estende até ser Árctico.
       O leitor dirá que escrevo tocado pela nostalgia da distância. Alguns amigos açorianos dizem-me que sim, que da América a insularidade é mais romântica. E o meu amigo Daniel de Sá deve ter pensado em gente como eu quando escreveu no seu Ilha Grande Fechada (já lhe leram esse belo romance?) que emigrar é a pior maneira de ficar na ilha.
       Ponto de vista dele, claro. Do meu, se calhar diria que emigrar é, afinal, a melhor maneira de lá ficar.

Almeida, Onésimo Teotónio (1997). Rio Atlântico.
Lisboa: Edições Salamandra. pp. 175-178.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Almada Negreiros
Luís, o Poeta, Salva a Nado o Poema
Era uma vez
um português
de Portugal.
O nome Luís
há-de bastar
toda a nação
ouviu falar.
Estala a guerra
e Portugal
chama Luís
para embarcar.
Na guerra andou
a guerrear
e perde um olho
por Portugal.
Livre da morte
pôs-se a contar
o que sabia
de Portugal.
Dias e dias
grande pensar
juntou Luís
a recordar.
Ficou um livro
ao terminar.
muito importante
para estudar:
Ia num barco
ia no mar
e a tormenta
vá d'estalar.
Mais do que a vida
há-de guardar
o barco a pique
Luís a nadar.
Fora da água
um braço no ar
na mão o livro
há-de salvar.
Nada que nada
sempre a nadar
livro perdido
no alto mar.
- Mar ignorante
que queres roubar?
a minha vida
ou este cantar?
A vida é minha
ta posso dar
mas este livro
há-de ficar.
Estas palavras
hão-de durar
por minha vida
quero jurar.
Tira-me as forças
podes matar
a minha alma
sabe voar.
Sou português
de Portugal
depois de morto
não vou mudar.
Sou português
de Portugal
acaba a vida
e sigo igual.
Meu corpo é Terra
de Portugal
e morto é ilha
no alto mar.
Há portugueses
a navegar
por sobre as ondas
me hão-de achar.
A vida morta
aqui a boiar
mas não o livro
se há-de molhar.
Estas palavras
vão alegrar
a minha gente
de um só pensar.
À nossa terra
irão parar
lá toda a gente
há-de gostar.
Só uma coisa
vão olvidar
o seu autor
aqui a nadar.
É fado nosso
é nacional
não há portugueses
há Portugal.
Saudades tenho
mil e sem par
saudade é vida
sem se lograr.
A minha vida
vai acabar
mas estes versos
hão-de gravar.
O livro é este
é este o canto
assim se pensa
em Portugal.
Depois de pronto
faltava dar
a minha vida
para o salvar.

Escrito em Madrid (Dezembro de 1931)
Publicado no Diário de Lisboa em 1931

Disponível em Project Gutenberg


Páginas Paralelas:

Luís, o Poeta, Salva a Nado o Poema, de Almada, dito por Mário Viegas in Humores II


Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=qE919A96q40

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo
Mia Couto, Abril 1984
(Excerto do Poema da Despedida,
In Raiz de Orvalho e Outros Poemas)

Esta semana, em torno do Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, permitam-nos que celebremos a(s) Portugalidade(s), na voz daqueles que se vão “da lei da morte libertando” através da língua portuguesa. Desde a declaração de amor à nossa língua, da brasileira Clarice Lispector, aos primeiros poemas do moçambicano Mia Couto, o vencedor do Prémio Camões 2013, passaremos por Camões, o próprio, celebrado nas palavras de Almada, esse “português sem mestre” (Augusto-França) e na voz de Mário Viegas. Passaremos ainda, numa viagem da língua portuguesa por outros continentes, outras raízes, outras sonoridades e outras “raças”, por Onésimo Teotónio Almeida, açoriano que, do outro lado do Atlântico, talvez “tocado pela nostalgia da distância”, revisita a ilha e pensa que “emigrar é, afinal, a melhor maneira de lá ficar”, e por Waldemar Bastos, angolano que levou uma nova língua portuguesa na voz até aos quatro cantos do mundo. E finalmente aprenderemos com o vendedor de pássaros de Mia Couto que, apesar de tudo, “cada homem é uma raça”.
Clarice Lispector
Declaração de amor
Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la — como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E esse desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.

Crónica publicada pela primeira vez a 11 de Maio de 1968, no Jornal do Brasil. Publicada depois, em 1984, em A Descoberta do Mundo (1984), que reúne as crónicas publicadas no Jornal do Brasil, entre 1967 e 1973. Disponível aqui

Este texto serve de “pórtico” à exposição “Clarice Lispector – A Hora da Estrela”, patente no Museu Gulbenkian, em Lisboa, até 23 de Junho.


Páginas Paralelas:
Exposição “Clarice Lispector – A Hora da Estrela”Museu Gulbenkian
Página Web sobre Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Rainer Maria Rilke

Der Panther

Im Jardin des Plantes, Paris

Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden, dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.

Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein großer Wille steht.

Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf -. Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille -
und hört im Herzen auf zu sein.

Rainer Maria Rilke, 6.11.1902, Paris



Páginas Paralelas:
Das Gedicht von Rainer Maria Rilke, gelesen von Gerhard Wagner (2010)

Der Panther - Animationskurzfilm frei nach Rilke, von Lena Oltman und Konrad Frank (2008)

On this page you’ll find six English translations of this poem
Aqui encontra a tradução do poema em várias línguas, incluindo português do Brasil

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Luis Sepúlveda

O Velho que Lia Romances de Amor
[excerto]
Antonio José Bolívar sabia ler, mas não escrever.
O mais que conseguia era garatujar o nome quando tinha que assinar qualquer papel oficial, por exemplo, na época das eleições, mas, como tais acontecimentos ocorriam muito esporadicamente, já quase se tinha esquecido.
Lia lentamente, juntando as sílabas, murmurando-as a meia voz como se as saboreasse, e, quando tinha a palavra inteira dominada, repetia-a de uma só vez. Depois fazia o mesmo com a frase completa, e dessa maneira se apropriava dos sentimentos e ideias plasmados nas páginas.
Quando havia uma passagem que lhe agradava especialmente, repetia-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também podia ser bela.
Lia com o auxílio de uma lupa, o segundo dos seus pertences mais queridos. O primeiro era a dentadura postiça.
Vivia numa choça feita de canas de uns dez metros quadrados dentro dos quais arrumava o seu escasso mobiliário: a rede de dormir de juta, o caixote de cerveja com o fogão a querosene em cima, e uma mesa alta, muito alta, porque, quando sentiu pela primeira vez dores nas costas, percebeu que os anos lhe estavam a carregar e decidiu sentar-se o menos possível.
Construiu então a mesa de pernas compridas, que lhe servia para comer de pé e para ler os seus romances de amor.
A choça era protegida por uma cobertura de palha entrançada e tinha uma janela aberta para o rio. Era a ela que estava encostada a mesa alta.
Junto da porta estava pendurada uma toalha esfiapada e a barra de sabão renovada duas vezes por ano. Era um bom sabão, com penetrante cheiro a sebo, e lavava bem a roupa, os pratos, os cacos da cozinha, o cabelo e o corpo.
Numa parede, aos pés da rede, estava pendurado um retrato retocado por um artista serrano onde se via um casal jovem.
O homem, Antonio José Bolívar Proaño, vestia um fato azul de rigor, camisa branca e uma gravata às riscas que só existiu na imaginação do retratista.
A mulher, Dolores Encarnación del Santíssimo Sacramento Estupiñán Otavalo, vestia umas roupas que, essas sim, existiram e continuavam a existir nos recantos obstinados da memória, nos mesmos onde se põe de atalaia o moscardo da solidão.
[…]
Sepúlveda, Luis (2000). O Velho que Lia Romances de Amor
(17ª ed.). (Pedro Tamen, Trad.). Porto: ASA. Pp. 28-29.

Páginas Paralelas:
Filme de Rolf de Heer (2001), baseado no livro de Luis Sepúlveda (filme completo, dobrado em português do Brasil)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Gao Xingjian

Instantâneos
[excerto]
[…]
«Um pequeno chinês…», o velho negro canta em inglês sem lhe lançar um olhar. A velha negra acaricia o teclado, quase deitada sobre o piano, balança o corpo ao compasso, absorvida pela música, como se estivesse bêbeda ou apaixonada, também não olha. Ele está entretido a beber a sua cerveja. Sob a luz azul fluorescente do bar, ninguém olha para ninguém. A assistência, embalada pela música, parece um grupo de marionetas a mexer a cabeça.
O cavalo empinou as patas da frente. Patas cobertas de pêlos. «Vagabundeia pelo mundo…» O canto do velho homem negro recomeça.
A velha mulher dá o acorde, o sol ressoa nos cascos dos cavalos. «Vagabundeia pelo mundo… Vagabundeia pelo mundo…» O velho homem negro é acompanhado pela bateria e a assistência move a cabeça ao ritmo.
A corda desliza de mão em mão; em baixo, os pés calçados com sapatos de couro estão solidamente ancorados na relva verde.
A espuma voa no ar, as vagas batem no molhe. Em baixo, a maré sobe, a praia já desapareceu completamente. O sol continua brilhante, mas o céu e o mar parecem de um azul ainda mais forte.
A extremidade da corda acaba por aparecer. Um enorme peixe morto preso a um anzol vermelho é lançado sobre a erva verde. Tem a boca muito aberta como se ainda respirasse; de facto, está morto. O seu olho muito redondo já não tem brilho, mas ainda tem uma expressão de pavor.
A água do mar ultrapassa o molhe e espraia-se no dique molhado. O céu torna-se azul escuro e a luz do sol extraordinariamente transparente.
Uma grande barata de asas luzidias agita as antenas. Trepa pelo tapete felpudo de uma brancura leitosa. Avança sobre os fios entrançados. No círculo de luz do lustre suspenso sobre o tapete recorta-se a parte de trás de um cavalo esculpido em madeira de palissandro: as duas patas posteriores e a garupa lisas e brilhantes. Os cascos estão cobertos por uma lamela de cobre fixada por pequenos pregos delicadamente trabalhados.
«Vagabundeia… pelo mundo! Vagabundeia… pelo mundo!» O teclado recomeça a cantar sob as mãos negras cobertas de rugas. Abana incessantemente a cabeça ao ritmo da música. Em frente dele, no balcão, estão alinhadas três garrafas de cerveja vazias. Na mão tem um copo meio cheio. Uma mulher branca instala-se no banco ao lado do seu, coxas apertadas por uma saia de cabedal, tão lisas e brilhantes como a garupa de um cavalo.
A água do mar, como uma peça de cetim negro, espraia-se no dique; um peixe morto jaz na água que se estende. Nem um som. A maré e o vento quedaram-se subitamente. Parece que o tempo parou. Só a água do mar se espraia, negro cetim estendido. Talvez não se mova. É apenas uma impressão, uma sensação, uma imagem que se pressente.
[…]
Gao, Xingjian (2001). Instantâneos. In Uma Cana de Pesca para o Meu Avô (3ª ed.).
(Carlos Aboim de Brito, Trad.). Lisboa: Publicações Dom Quixote. pp. 100-101.


Páginas Paralelas:
Gao Xingjian’s Biography and Nobel Letcure
Gao Xingjian’s art work
«Prix Nobel de littérature 2000, poète, dramaturge, peintre, Gao Xingjian a choisi Marseille pour s'y installer durant une année. "L'Année Gao à Marseille" a été pour l'artiste un défi fou et osé : Art plastiques, Théâtre, Opéra, Colloque international, Cinéma, autant d'œuvres inédites d'une éthique métaphysique rare et présentées aux Marseillais comme une démarche volontaire d'Art Total, avec comme Commissaire général Salvatore Lombardo. La réalisation de Alain Melka nous révèle, tout en poésie et pudeur, une œuvre majestueuse et unique, mais surtout un homme, Gao Xingjian, épris de liberté artistique et humaine. "Un oiseau dans la ville", les ailes du langage absolu.»
Alain Melka (2003). "L'Année Gao à Marseille". Digital Media Production:
          Part 1
          Part 2