Adília Lopes
POETISA-FÊMEA, POETA-MACHO
(cliché em papel couché)
1
Eu estou nua
eu estou viva
eu sou eu
Eu uso gravata
e, olhe, não foi barata
2
Sou uma poetisa-fêmea
falo do falo
Sou um poeta-macho
sacho
3
Sou um poeta-macho
sou um desmancha-prazeres
sou um empata-fodas
Sou uma poetisa-fêmea para mim
é tudo bestial
4
Sou um poeta-macho
sou arrogante
sou um pé de Dante
Sou um poeta-macho
sou um facto
sou um fato
5
Sou um poeta-macho
tenho um gabinete
sou uma poetisa-fêmea
escrevo na retrete
Sou um poeta-macho
sou um badalo
sou uma poetisa-fêmea
calo-me
6
A poetisa- fêmea
toca viola
o poeta-macho
viola-a
7
Senhora doutora,
os seus seios
são feios
o poeta-macho
assina o despacho
8
Não tenho culpa
não tenho desculpa
não tenho cuspo
não tenho tempo
9
Natália Correia, Mário Soares
antes me ponha
um cacto
mas não me mato
Adília Lopes (2009). «Poestisa-Fêmea, Poeta-Macho». In: Dobra. Poesia Reunida. Lisboa: Assírio e Alvim, pp. 462-463.
Sem comentários:
Enviar um comentário