segunda-feira, 19 de setembro de 2011

AAVV, "Rugas, verrugas e outras marcas (3 excertos)"


"Sempre pensei que era triste as pessoas tentarem mudar a sua aparência, fazendo uma operação plástica ao rosto ou aos olhos para tentar apagar as rugas. Como se fossem algo de que ter vergonha. Lembro-me da primeira vez que notei rugas nos cantos dos olhos e de como fiquei espantada. Pus-me em frente do espelho e fiz todas as expressões, alegre, triste, zangada, para tentar ver onde as tinha obtido. E era do riso - prosseguiu. - Provinham do riso. E calculei que as obtivera ao longo de muitos momentos felizes. Pertenciam-me."
 Andrew Mark (2005). Começar de Novo (7º ed.). Lisboa: Editorial Presença. p. 124.

O António tornara-se a minha vida. Parecia que nos conhecíamos desde sempre. Que tínhamos sido feitos um para o outro. Vivíamos num estado de namoro permanente, como nunca tivera com ninguém. Ele era um homem maravilhoso. Um homem a sério: protector, generoso, divertido, inteligente, bom conversador. Às vezes até ficava a pensar se era mesmo real. Ficava a pensar que um destes dias ainda lhe descobria um defeito. Tipo: uma verruga no pé! Estou a brincar. Essa é a velha mentalidade muito portuguesa da qual eu quero distância: procurar defeitos, achar que alguma coisa tem de estar mal para podermos sofrer, lá no nosso caminho.
 Luísa Jeremias (2011). Preciso de ti. Lisboa: Esfera dos Livros. pp. 320-321.

O sofá é fofo e cómodo, porém um pouco estreito para dois adultos. Embora um e outro se encostem às extremidades, Grace e James quase se tocam. Um dos dois cadeirões antigos que ladeiam o sofá prometia maior liberdade de movimentos mas nem o visitante nem a dona da casa se deixaram tentar. Aguardam, lado a lado e próximos, que Antony apareça. Antecedendo a intervenção do convidado, o CTAV mostra a exposição Jóias da Monarquia, insistindo em grandes planos do lugar onde se encontrava a coroa de Matilde antes do audacioso golpe. Nestes tempos novos e insensatos há televisões que costumam focar assim, e com deleite, as marcas de sangue por acidentes e crimes com faca ou bala.
Mário Zambujal (2011). Uma noite não são dias. Lisboa: Editora
Planeta. p. 81. Publicado pela primeira vez em 2009.

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