Vasco Graça Moura
sobre a minha cidade
sobre
a minha cidade, falei-te ontem, mostrei-te
as
esquinas do tempo, a imagem de
fachadas
que
ainda conheci, de outras que
eu
próprio ignorava; sobre
a
minha cidade e suas pedras, seus espaços
de
árvores graves; e o que foi arrasado,
ou
está a desfazer-se; as manchas do presente, a
poluição
dos homens; e o que foi
violentamente
arrancado por negócios sucessivos,
erros,
brutalidades: o que era e o que foi
o
que é dentro de mim o seu obscuro,
imaginário
ser: costumes e conflitos,
maneiras
de falar, a gente
e
a confusão das ruas, as casas do barredo;
sobre
a minha cidade achei que tu
tiveste
gratidão, a viste.
que
percorreste as pontes que da minha
cidade
a ti me trazem, entre
gaivotas
alastrando e músicas diferentes,
e
foste nascer nela.
Vasco Graça Moura (1996). «sobre a minha cidade». In: Poemas Escolhidos. Venda Nova: Bertrand,
p. 222.
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