segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amin Maalouf, excerto de "Um Mundo sem Regras"

Quem descobrisse nas minhas afirmações a ira de um minoritário do Oriente só se enganaria em metade. Efectivamente, pertenço a uma espécie em vias de extinção, e recusarei até ao último fôlego considerar como normal a emergência de um mundo onde comunidades milenares, guardiãs das mais antigas civilizações humanas, sejam obrigadas a fazer as malas e a abandonar o seu território ancestral para se refugiarem sob um tecto longínquo.
É natural que as vítimas se insurjam; é inquietante que sejam as únicas a insurgir-se. O problema das minorias não é apenas um problema para os minoritários. O que está em causa não é apenas, se me é permitido afirmar, o destino de alguns milhões de homens. O que está em causa é a razão de ser e a finalidade da nossa civilização; se, no final de uma longa evolução material e moral, ela chega a uma tal «purificação» étnica e religiosa é porque manifestamente fez um caminho errado.
Para qualquer sociedade e para a humanidade no seu conjunto, o destino das minorias não é um dossiê entre muitos outros; é, juntamente com o destino das mulheres, um dos reveladores mais seguros do avanço moral ou da regressão. Um mundo onde todos os dias se respeita um pouco melhor a diversidade humana, onde qualquer pessoa pode exprimir-se na língua da sua escolha, professar tranquilamente as suas crenças e assumir serenamente as suas origens sem ser vítima de hostilidade ou de difamação, quer por parte das autoridades quer por parte da população, é um mundo que avança, que progride, que se eleva. Inversamente, quando prevalecem as crispações identitárias como acontece hoje na maioria dos países, tanto no Norte do planeta como no Sul, quando todos os dias se torna um pouco mais difícil alguém ser serenamente ele mesmo, praticar livremente a sua língua ou a sua fé, como não falar de regressão?
Amin Maalouf (2009). Um Mundo sem Regras. Lisboa: Difel. pp. 65-66.

Pode ver neste endereço Amin Maalouf a apresentar a obra Um Mundo sem Regras na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

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