Gonçalo M. Tavares
O homem mal-educado
O mal-educado não tirava o chapéu em
nenhuma situação. Nem às senhoras quando passavam, nem em reuniões importantes,
nem quando entrava na igreja.
Aos poucos a população começou a ganhar
repulsa pela indelicadeza desse homem, e com os anos esta agressividade cresceu
até chegar ao extremo: o homem foi condenado à guilhotina.
No
dia em questão colocou a cabeça no cepo, sempre, e orgulhosamente, com o
chapéu.
Todos
aguardavam.
A
lâmina da guilhotina caiu e a cabeça rolou.
O chapéu,
mesmo assim, permaneceu na cabeça.
Aproximaram-se,
então, para finalmente arrancarem o chapéu àquele mal-educado. Mas não
conseguiram.
Não
era um chapéu, era a própria cabeça que tinha um formato estranho.
Gonçalo M. Tavares (2004). O homem mal-educado. In: O Senhor Brecht. Lisboa: Caminho, p. 16.
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