terça-feira, 13 de maio de 2014

Bertolt Brecht

A QUEIMA DOS LIVROS

Quando o Regime ordenou que queimassem em público
Os livros de saber nocivo, e por toda a parte
Os bois foram forçados a puxar carroças 
Carregadas de livros para a fogueira, um poeta
Expulso, um dos melhores, ao estudar a lista
Dos queimados, descobriu, horrorizado, que os seus
Livros tinham sido esquecidos. Correu para a secretária
Alado de cólera e escreveu uma carta aos do Poder.
Queimai-me! escreveu com pena veloz, queimai-me!
Não me façais isso! Não me deixes de fora! Não disse eu
Sempre a verdade nos meus livros? E agora
Tratais-me como um mentiroso! Ordeno-vos:
Queimai-me!


Bertolt Brecht (1999). «A Queima dos Livros», trad. Paulo Quintela. In: Paulo Quintela. Obras Completas. Vol. IV. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 50.

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