A verdade é que fui um mau aluno e que a minha mãe nunca se refez completamente desse desgosto. Hoje que a sua consciência de senhora muito idosa abandona os limites do presente e reflui lentamente para os longínquos arquipélagos da memória, os primeiros recifes que emergem recordam-lhe a inquietação que a devorou durante toda a minha escolaridade.
Pousa em mim um olhar inquieto e, lentamente:
– O que fazes na vida?
[...]
Nenhum futuro.
Crianças que nunca virão a ser alguém.
Crianças desesperantes.
No ensino primário, no preparatório, depois no secundário, eu também acreditava piamente nesta existência sem futuro.
É mesmo a primeira coisa de que se convence um mau aluno.
– Com essas notas, a que podes tu aspirar?
– Acreditas que alguma vez chegarão ao sexto ano? (Ao sétimo, ao oitavo, ao nono, ao décimo, ao décimo primeiro, ao décimo segundo...)
– Que probabilidade terás de fazer o bac, diz-me, por favor, faz as contas, que probabilidade em cem?
[...]
Daniel Pennac (2009). Mágoas da escola. Porto: Porto Editora: p. 15 e 51
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