José Vítor Malheiros
[…]
Uma fila de supermercado é uma
colecção de histórias e há umas que parecem mais prometedoras do que outras.
Mas nem todas são agradáveis. Nos últimos meses, as filas de supermercado
contam histórias tristes.
A fila que escolhi hoje é pequena. À
minha frente, está uma mulher de uns 30 ou 40 anos, elegante, com um olhar
vivaz e um sorriso inteligente […] que leva meia dúzia de compras na mão […].
Está vestida com um tailleur
saia-e-casaco e sapatos pretos de salto, formais, certamente por necessidade
profissional. Pousa as compras no tapete e murmura qualquer coisa à empregada.
Percebo que lhe pede para ir fazendo subtotais, à medida que vai registando as
compras. Há vários iogurtes mas estão separados, em vez de estarem num conjunto
de quatro, como na prateleira. A caixa passa várias compras e quando o subtotal
atinge 3 euros e 73 cêntimos a cliente diz “está bem assim”. No tapete fica um
iogurte natural e um pacote de bolachas da marca do supermercado que a caixa
põe de lado num gesto rápido, numa pilha heteróclita onde há outros restos de
compras. A mulher paga os 3,73 euros com Multibanco.
Esta história é sobre uma mulher
elegante de 30 ou 40 anos, com um sorriso inteligente, que trabalho num sítio
onde lhe exigem que vista com alguma formalidade e que só tem quatro euros no
banco.
José Vítor Malheiros (03 julho 2012). Na fila de
supermercado. Público. p. 49.
[excerto]
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