sexta-feira, 13 de abril de 2012


CANTO DE MIM MESMO

1

Celebro-me e canto-me,
E aquilo que assumo terás tu de assumir,
Pois cada átomo que me pertence, por assim dizer, pertence-te.

Ando sem destino e convido a minha alma,
Inclino-me e calmamente observo uma haste de erva estival.

A minha língua, cada átomo do meu sangue, concebidos deste solo, deste ar,
Aqui nascido de pais aqui nascidos de pais e de seus pais que também aqui nasceram.
Começo agora com trinta e sete anos, de perfeita saúde,
E espero não parar até à morte.

Deixo credos e escolas em suspenso,
Retiro-me um pouco, saciado deles, mas não os esqueço,
Dou abrigo ao bem e ao mal, permito-me falar correndo todos os riscos,
Natureza incontrolada com a sua energia original.

Walt Whitman (2006). «Canto de Mim Mesmo».
In: Folhas de Erva (Maria de Lourdes Guimarães, Trad.).
S.l.: Círculo de Leitores. pp. 28-29.

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