Marley não abanava apenas a cauda. Abanava o corpo todo, começando pelas partes dianteiras e prolongando todo o movimento para trás. Era como a versão canina de um Slinky. Parecia-nos que não tinha ossos, mas tão-só um grande músculo elástico. Jenny começou a chamar-lhe Mr. Wiggles. E não havia altura em que se abanasse mais do que quando tinha qualquer coisa na boca. A sua reacção a qualquer situação era sempre a mesma: agarrar o sapato ou o lápis mais próximo – qualquer objecto servia, na verdade – e correr com ele. Parecia haver uma pequena voz na sua cabeça a sussurrar-lhe: força! Apanha-o! Baba-o todo! Corre!
Alguns dos objectos que ele apanhava eram suficientemente pequenos para serem dissimulados, o que parecia agradar-lhe especialmente - parecia pensar que estava a conseguir ludibriar-nos. Mas Marley jamais daria um bom jogador de póquer. Quando tinha alguma coisa para esconder, não conseguia disfarçar o seu júbilo. Punha sempre um ar empertigado, até explodir numa espécie de frenesim maníaco, como se tivesse levado um pontapé no traseiro de um folião invisível. O seu corpo começava a tremer, a sua cabeça a abanar de um lado para o outro e o seu traseiro desandava numa espécie de dança espasmódica. Chamávamos a isso o mambo do Marley.
(…)
A maioria das noites, depois de jantar, saíamos os dois com ele até à marginal, onde caminhávamos ao longo do canal enquanto os iates de Palm Beach passavam indolentemente ao pôr do Sol.
A maioria das noites, depois de jantar, saíamos os dois com ele até à marginal, onde caminhávamos ao longo do canal enquanto os iates de Palm Beach passavam indolentemente ao pôr do Sol.
Caminhar é provavelmente a palavra errada. Marley passeava como uma locomotiva em fuga. Corria à frente, debatendo-se com a trela com todas as suas forças, enrouquecendo e quase sufocando na sua obstinação. Nós puxávamo-lo para trás. Ele arrastava-nos para a frente. Nós puxávamos e ele rebocava-nos, arfando como um fumador compulsivo, estrangulado pela coleira. Guiava para a esquerda e para a direita, disparando para todas as caixas de correio e arbustos, farejando, arquejando e urinando descontroladamente, acabando por se molhar mais a si próprio, do que ao alvo pretendido.
Descrevia círculos à nossa volta, enredando-nos a trela nos tornozelos antes de pular novamente para a frente, quase nos atirando ao chão. Quando alguém se aproximava com outro cão, Marley dardejava em direcção a eles, rejubilante, erguendo-se nas patas detrás quando chegava ao fim da trela, ansioso por fazer novos amigos.
John Grogan (2006). Marley & Eu: A vida e amor do pior cão do mundo.
(Pedro Serras Pereira, Trad.). Lisboa: Casa das Letras. pp. 47-49.
Ilustração inédita de Alexandra Lota*
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