Na mão direita o sílex,
a pedra tosca…
Preênsil o sonho adere
ao gume rápido,
à súbita e excessiva claridade.
Galho a galho, feericamente iluminado,
treparei às bagas mais desejadas
e nos ramos mais altos dos meus olhos
sílaba a sílaba construirei
as luzes rápidas
da minha anunciada humanidade.
(p. 9)
Deito-me ao longo do poema.
Sobre a relva das palavras devagar me deito,
e dispo, e bebo nas ínfimas partículas do orvalho
as inflamadas vozes das manhãs vindouras.
Ao longo do poema, devagar,
como se o sangue prefaciado e antigo
coagulasse de repente,
surdamente explode um cântico selvagem…
Tatuagem. Seiva. Ritmo.
Estas serão as rosas que livremente eclodirão
na próxima Primavera.
Pelos muros do Outono
alguém construirá, sobre os meus ombros,
sinais visíveis dos ventos da mudança.
………………………………….
………………………………….
A cabeça do pássaro mal sustenta
a beleza extraordinária
que o seu canto encerra.
(p.13)
Construtor de sonhos e de mitos
ergo-me bruxuleante
no interior de abóbadas irreais
e disponho, disciplinadamente,
o meu mobiliário de sombras
nos recantos mais iluminados.
Lá fora, rondando a noite, os lobos uivam.
A neve tem reflexos simiescos.
Multiplicando a fome pelo frio
inspiradamente eu grito: - Carne! Flecha!
Mão harmoniosa!...
Nas paredes do abrigo a magia do ocre
verbaliza a neblina matinal que se dissipa.
Na base de uma aresta inesperada
um olho nu desponta reclinado.
Tangem-lhe a íris migratória
ténues rémiges de uma ave mítica
em rápida ascensão solar.
Ganhando velocidade nas hastes pontiagudas
nitidamente a rena amadurece.
Heitor Aghá Silva (1991). arqueologia da palavra. Horta: Edição do autor.
Ilustrações de Sérgio Luís.
Link para o Avenida Marginal, Jornal cultural faialense, dirigido por Heitor H. Silva:http://jornalavenidamarginal. blogspot.com/2011/04/avenida- marginal-n-9.html
Link para o Avenida Marginal, Jornal cultural faialense, dirigido por Heitor H. Silva:http://jornalavenidamarginal.
Sem comentários:
Enviar um comentário